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Esta exposição é o resultado de sete meses de pesquisa histórica sobre os acontecimentos relacionados à Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores e seus arredores nos últimos 300 anos. Mergulhamos em acervos de centros de pesquisa nacionais e internacionais, museus e coleções particulares, para, junto com a análise detalhada do acervo documental em poder da própria Irmandade, contar uma história que começa em Portugal, há mais de mil anos, e que continua a ser escrita aqui, desde 1750.
Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores
CRÉDITOS DA EXPOSIÇÃO
Ideia original e consultoria histórica
Claudio André P. de Castro
Comissário administrativo 2023-2026
Design, texto e imagem
Carlos André Gomes
carlosandregomes.com
Patrocínio
Diário do Rio
Sergio Castro Imóveis
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Nasceu no distante Portugal a devoção à N. S. da Lapa. Durante a invasão da Lusitânia, em 988, por Almansor e seus violentos soldados, as freiras do convento de Quintela, aterrorizadas pela aproximação bárbara, fugiram deixando numa gruta a imagem da Virgem.
Séculos depois, Joana, menina surda que pastoreava o rebanho da família, encontrou, dentro da gruta, a imagem escondida. Ao ver que a filha carregava nas mãos uma “boneca”, a mãe lhe pede a imagem e ameaça atirá-la ao fogo. Nesse momento a criança, recuperando a fala, explica o sucedido. A mulher àquela altura sofria com uma incurável paralisia no braço direito.
Um dia, mãe e filha resolvem devolver à lapa (palavra que significa “gruta”) a imagem dali retirada. Para lá se encaminharam e, depondo a santa no seu lugar, aos seus pés se ajoelharam; nesse mesmo momento a paralisia desapareceu. Em 1498, sobre as pedras da mesma gruta foi construído um templo. No século XVII, os jesuístas decidiram construir no local um novo santuário, onde se mantém, até hoje, a veneração à N. S. da Lapa.
LEGENDAS
No alto, à esquerda:
Santuário de Nossa Senhora da Lapa — ao centro da imagem —, Sernancelhe, Portugal.
À esquerda:
Interior do santuário, construído de forma a abrigar a lapa onde foi encontrada a imagem original de Nossa Senhora da Lapa — em exibição no alto da pedra.
Acima, à direita:
ZURBARÁN, Francisco. Retrato de Almansor (1549-1603), Madrid, Coleção Particular. Fugindo das tropas de Almansor, em 988, as freiras do convento de Quintela resolveram esconder a imagem da virgem sob a pedra onde ela permaneceu por séculos. No local, tempos depois foi erguido o Santuário de N.S. da Lapa.
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PAINEL 2
Por volta de 1700, todo aquele que, à hora do crepúsculo, passasse nos arredores da rua da Cruz – antigo nome da rua do Ouvidor, no trecho entre a rua 1º de Março e o mar –, teria a sua atenção despertada para um grande aglomerado de gente, postado na esquina de um beco ali existente. Prestando maior atenção, chegaria até a ouvir um suave murmúrio de prece. Eram os negociantes que aqui se reuniam para louvar à Virgem da Lapa.
No canto deste beco – a atual Travessa do Comércio – havia um oratório público, levantado pelos mascates que atuavam nas redondezas. Gente simples, mas cheia de fé, que elegeu a Senhora da Lapa como sua padroeira e, naquele altar pobre mas iluminado, cultuavam a santa, a quem chamavam ”dos Mascates”. Pouca gente sabe que naquela época os oratórios eram a única coisa que ficava acesa, na rua, durante à noite.
Em 1750, comerciantes outros, possuidores de maiores recursos, tinham construído uma capela na esquina em frente ao oratório, e que por eles foi dedicada à Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. Ficava estabelecido assim o culto à mesma santa em dois pontos diferentes, embora próximos, por comerciantes.
Com o passar do tempo, mais e mais aumentavam os frequentadores da capela, enquanto diminuíam os que rezavam no oratório. Daí surgiram mal-entendidos, provocações, discussões que culminavam sempre no dia da festa da padroeira, forçando a intervenção de autoridades para acalmar os exaltados.
Pensando em pacificar a situação, os fiéis que rezavam no oratório resolveram terminar o seu culto e recolher as imagens que possuíam à capela dos mercadores. Dessa forma, a 12 de agosto de 1812, com a trasladação das imagens de N. S. da Lapa, do Menino-Deus e Sant’Ana, e ainda alfaias e ornamentos para o santuário da Irmandade dos Mercadores, foi posto ponto final na devoção do nicho.
Mas voltemos ao princípio. Os negociantes lojistas das cercanias da rua da Cruz deliberaram organizar-se em uma Irmandade e edificar eles mesmos, com recursos próprios, um templo à N. S. da Lapa, e assim, em 20 de junho de 1747, reuniram-se para dar início à realização do respeitável propósito.
Contribuindo com seus bens pessoais, recebendo donativos e esmolas, puderam formar uma soma apreciável. O primeiro passo foi comprar três prédios num mesmo terreno. Demolidos esses prédios, logo foram lançados os alicerces para o templo, em dezembro de 1747. A pedra de alvenaria foi conseguida na Ilha das Cobras, a de granito na pedreira da Glória, e os portais de mármore de lioz foram importados de Portugal.
Trabalharam com tanta dedicação e interesse que, em 1750, a parte indispensável para a realização das cerimônias religiosas já se achava concluída. E tanto que a 6 de agosto daquele ano teve lugar a solenidade da sagração do templo, com provisão régia do Rei Dom José I. De 1753 a 1755, as obras foram terminadas, destacando-se entre elas o fechamento da cúpula sobre a qual foi colocada uma grande estátua de Nossa Senhora da Fé, medindo 13 palmos, esculpida em mármore e tendo ao seu redor, em nichos na fachada, as imagens de S. Felix, S. João da Mata, S. Bernardo e Sto. Adriano, todas procedentes de Lisboa. Entre estes dois últimos está um grande medalhão de mármore, artisticamente trabalhado, representando a coroação da Virgem, encontrado durante as escavações que foram feitas no terreno, e que depois foi descoberto ter sido escondido da invasão dos franceses. Logo acima está o relógio e, a seguir a torre com um carrilhão de 12 sinos - o primeiro do gênero no Brasil, doado depois à igreja pelo Barão da Lagoa.
De frente para a rua do Ouvidor, uma espaçosa galilé serve de entrada e de acesso à nave. Antigamente eram abertos seus vãos; desde 1861, é fechada com grades de ferro. Toda a obra de talha do templo é de autoria de Antônio de Pádua e Castro, e a de estuque pertence a Antônio Alves Meira, artistas elogiados por todos os mestres que os foram apreciar.
Do teto pende belo lustre de cristal e metal prateado que ilumina toda a nave. Todo o teto da capela-mor é decorado com pinturas esplêndidas. Nas paredes destacam-se quatro painéis em que figuram o Nascimento de Cristo, o Casamento da Virgem, a Fuga para o Egito e o Encontro de N. Senhora com Sta. Isabel. Esses quadros maravilhosos são do artista Francisco Luiz Garcia Sanches. Enfim, o templo é um verdadeiro espetáculo de beleza e conservação.
No ano de 1840, o próprio Imperador Dom Pedro II assina o Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, estatuto que rege esta associação de fiéis, proprietária do templo até os dias de hoje. No século XIX, num passo importante para a igreja, ocorre a expansão da edificação, apelidada de Igrejinha dos Mercadores.
A revolta da Armada, em 1893, não deixou incólume a Lapa dos Mercadores. Um projétil disparado pelo couraçado "Aquidabã" contra a cidade atingiu o alto zimbório, destruindo-o e derrubando a estátua de N. S. da Fé. A cúpula espatifou-se e do topo a estátua caiu no meio da rua do Ouvidor. Inexplicavelmente, apesar da grande altura e do peso enorme da imagem, os danos por ela sofridos foram pequenos – apenas partiram-se dois dedos e um pequeno pedaço da base.
Hoje a estátua está aqui no Átrio da Fé, no mesmo estado em que foi resgatada dos escombros da torre sineira em 1893, e, dentro de um nicho cavado na parede, está o artefato, ambos guardados em memória do que se convencionou chamar “O Milagre da Rua do Ouvidor”, sob uma claraboia que foi uma das maiores de seu tempo, e o vitral azul com a insígnia de nossa Irmandade.
A velha igrejinha acabou interditada em 2020. Mas com uma nova administração, iniciada em 2023, passou por ampla recuperação. Em 10 de junho, reabriu suas portas. Seus sinos voltaram a badalar.#Seu relógio, depois de 101 anos parado, voltou a funcionar. Resiliente como o Centro do Rio, a Irmandade da Padroeira dos Comerciantes cariocas está viva e volta a ser farol de cultura e fé em nossa cidade.
NOSSA HISTÓRIA EM IMAGENS
LEGENDAS
HILDEBRANDT, Eduard. Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, 1844. Aquarela sobre papel - 36 x 25,8 cm.Rua do Ouvidor, com destaque para as igrejas N. Sra. da Lapa dos Mercadores, à esquerda, e Santa Cruz do Militares, à direita.
FERREZ, Marc, 1895 circa, Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles.
Destaque para a nova torre sineira, construída depois do bombardeio. Na rua lateral, a área do antigo oratório.
No alto, à esquerda:
FERREZ, Marc. Aquidabam, [Baía de Guanabara: encouraçado]. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.], [1894]. 1 foto, gelatina, p&b, 33 x 52 cm em cartão-suporte: 50 x 65 cm.
No alto, à direita:
DE MARTINO, Eduardo. A Revolta no Brasil, Visão Geral da Baía e Vila do Rio durante o Primeiro Bombardeio da Cidade pelas Forças Rebeldes do Almirante Mello. Ilustração para The Graphic, 14 de outubro de 1893; Veja e aprenda / Coleção de papéis ilustrados.
À esquerda:
Entrega das chaves da igreja ao novo comissário, Dr. Claudio André P. de Castro, o primeiro à esquerda; ao centro, ex-Superintendente do IPHAN, Sr. Olav Schrader; à direita, representando a Arquidiocese do Rio de Janeiro, Padre Silmar Alves Fernandes. 6 de março de 2023.
Ao lado:
Parte do histórico acervo de negativos da Irmandade, com o registro de missas, batizados, funerais, além de eventos e festividades realizados na Igreja e seus arredores. A coleção é um testemunho da centralidade da igreja na vida religiosa e social do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século passado. Fotógrafo não identificado, circa 1910-1930.
Rua do Ouvidor, 35 - Centro, Rio de Janeiro - Rio de Janeiro, Brazil
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